domingo, 18 de maio de 2014

Será necessário um novo Sobral Pinto para interromper as arbitrariedades cometidas contra Dirceu e Genoíno?



sexta-feira, 9 de maio de 2014



Sobral Pinto
Durante a ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas, o advogado Sobral
Pinto (imagem) invocou a Lei de Proteção aos Animais para defender os
líderes comunistas Luiz Carlos Prestes e Harry Berger. Será necessário
que se faça o mesmo agora?



Em termos de tortura física, evidentemente não se pode comparar as
aplicadas a Prestes e Berger (que morreu louco na Alemanha, graças às
torturas) com o que está acontecendo agora a dois réus do chamado
mensalão.



Mas o que está sendo feito aos Josés - Dirceu e
Genoíno - é crime covarde e continuado, tortura, bullying, aplicado pelo
presidente do Poder que, em tese, deveria promover a Justiça, sob
silêncio cúmplice de seus pares, aplauso mais, ou menos efusivo
da mídia e alegria e regozijo de colunistas vendidos e seus leitores,
"indignados úteis" (sobre estes, leia Mídia corporativa e Instituto Millenium, aliados dos EUA, usam 'indignados úteis' para transformar o Brasil numa nova Venezuela) que não percebem que ao aplaudirem a injustiça hoje
abrem caminho para sofrê-la amanhã.




Leiam com atenção e se possível despindo-se de preconceito este precioso texto de Paulo Moreira Leite, publicado originalmente aqui.


A notícia de que uma das filhas
de José Dirceu furou a fila da Papuda para encontrar-se com seu pai tem
a relevância de um episódio menor numa grande tragédia.
Ninguém precisa ter compromisso com erros e deslizes.
Quaisquer que sejam as falhas e
faltas cometidas  neste caso, que ainda aguarda esclarecimentos
maiores, é preciso distinguir o principal do secundário, o que é certo
do que é absurdo. 
José Dirceu, hoje, é vitima de  tortura moral contínua.  
Como esse tipo de violência não deixa
marcas físicas, muitas pessoas acham fácil conviver com ela. Não sentem
culpa nem remorso.
O pai de Joana Saragoça encontra-se preso na Papuda desde novembro de 2013.
Jamais foi condenado a regime fechado
mas até hoje lhe negam o direito de sair para trabalhar. Sua
privacidade foi invadida e, sem seu consentimento, suas fotografias na
prisão chegaram aos meios de comunicação, várias vezes, onde foram
exibidas de modo a ferir sua imagem. Nada aconteceu com os responsáveis
por isso. Nada.
No esforço para encontrar – de
qualquer maneira – o traço de qualquer conversa telefônica indevida, um
indício, um ruído, uma procuradora chegou a pedir o monitoramento ilegal
das comunicações do Palácio do Planalto, o STF, o Congresso – e nada,
absolutamente nada, lhe aconteceu nem vai acontecer, fiquem certos.
Infiltrados numa visita de caráter
humanitário, parlamentares da oposição chegaram a divulgar mentiras
convenientes para prejudicar Dirceu. Lançaram a lorota do banho quente
na cela. Uma deputada que sequer entrou em sua cela deu entrevistas
falando dos privilégios. O que ocorreu? Nada. Nada. Nada. Sequer sentiu
vergonha. Talvez ganhe votos.
Situações como aquela enfrentada por José Dirceu podem criar situações insuportáveis entre pessoas próximas.
São capazes de  provocar reações irracionais, erradas, por parte daqueles que mais sentem a dor da injustiça.
Sem suspiros moralistas, por favor.
Lembrando as reações iniciais
ingênuas da família do capitão André Dreiyfus, Hanna Arendt sugere que
os parentes – muito ricos -- chegaram a pensar em subornar autoridades
que poderiam libertá-lo.
Quer um episódio mais chocante? Em
1970, Carlos Eduardo Collen Leite, o Bacuri, militante da luta armada,
foi preso e massacrado pela tortura do regime militar. Não custa lembrar
que, antes de ser executado, os jornais fizeram sua parte no serviço:
noticiaram sua fuga – dando a cobertura para um assassinato impune.
Bacuri foi apanhado num momento em
que fazia levantamento para um sequestro no qual pretendia salvar a
mulher, a militante Denise Crispim, presa e grávida. Quando seu corpo
apareceu, Bacuri tivera as orelhas decepadas, olhos vazados, dentes
quebrados, vários tiros no peito.
Claro que estamos falando de
situações diferentes. Muito diferentes. Graças a atuação de homens e
mulheres no passado mais duro – inclusive José Dirceu – o país tem hoje
um regime de liberdade.
Estes casos mostram, contudo, como é difícil reagir diante da injustiça.
Mostram como é pequeno falar em
“privilégio” diante de um poder que se arvora o direito de espionar a
presidência da República e nada sofre. Que desrespeita a lei, enrola e
ganha tempo, apenas para punir e perseguir.
 E é errado, muito errado,
cobrar de quem está nessa situação, oprimida, injustiçada,
comportamentos exemplares, racionais, sem enxergar o conjunto da
situação. Até porque nada se compara com outras reações surpreendentes e
tão comuns no país, como a de empresários que corrompem políticos,
constroem fortunas imensas e, mais tarde, apanhados em flagrante, alegam
que foram vítimas de extorsão. Nada disso.
 O pai de Joana Saragoça
está sendo submetido a um processo continuo de violência moral. Sua base
é o silêncio, o escuro, é a cela fechada, o presídio trancafiado, os
amigos distantes, o trabalho proibido, tudo para que se transforme numa
não pessoa,   com a cumplicidade e o silêncio dos mesmos que se mostram
muito incomodados com banhos quentes, um papelzinho de uma lanchonete
fast-food, uma feijoada em lata...

 E se você acha que,
talvez, esse negócio de “tortura moral” pode ser invenção deste
blogueiro, talvez seja bom desconfiar da natureza de seus próprios
princípios morais. Eles podem ter-se tornado flexíveis ultimamente.


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